Na
história da Anadia existem períodos bem documentados e estudados, mas também
existem outros períodos e acontecimentos que se encontram pouco documentados e
consequentemente pouco estudados.
Nos
períodos mais remotos da história, nomeadamente no Paleolítico e no Neolítico,
os vestígios são muito escassos e alguns necessitam mesmo de ser analisados e
comprovados. Quanto aos vestígios referentes ao Paleolítico encontraram-se nas
povoações dos Carvalhais, Vila Nova de Monsarros e Monte Castro (Anadia), onde
também se encontrou vestígios da Idade do Ferro. Os vestígios referentes ao
Neolítico encontraram-se na povoação da Moita. O período da ocupação romana
encontra-se, efectivamente, bem documentado existem vestígios de cerâmica e
cobertura doméstica, dispersos por todo o concelho: Avelãs de Caminho, Avelãs
de Cima, Aguim, Vilarinho do Bairro, Óis do Bairro, São Lourenço do Bairro,
Mongofores, aparecendo, porém com mais incidência, na Anadia e Sangalhos.
Mas se
estes vestígios encontrados não suscitam dúvidas, o mesmo não acontece em
relação ao traçado da via, do mesmo período, que ligava Cale (Porto) a Olisipo
(Lisboa). Para alguns investigadores a referida via passava dentro do concelho,
enquanto para outros investigadores a via passaria ao lado do concelho. A
verdade é que a referida via era de extrema importância a nível de comunicação
norte-sul, assim como, na comercialização dos vinhos da região que já se
efectuava na altura.
Os
documentos que comprovam a comercialização do vinho, só surgiram na Idade
Média, nomeadamente, actos contratuais, testamentos e doações, alguns destes
documentos apresentam-se em fontes tão ricas como iluminuras. Desta forma
existe referência à produção da vinha nas povoações de Arcos, Mongofores,
(séculos XII e XIII), assim como, no foral de Ferreiros, Fontemanha, e Vale de Avim
(Maio 1210. Como o vinho era e continua a ser um produto comercializável, as
instituições religiosas como Santa Cruz de Coimbra, Lorvão e Vacariça , que
detinham senhorios na região, usavam-no como forma de pagamento das rendas
fundiárias e impostos, assim como, incentivaram a sua produção na região.
A
importância da já referida via que ligava o norte ao sul, assim como, a
comercialização do vinho e das uvas deu origem a uma lenda, que se cruza com a
origem toponímica da localidade de Anadia.
Deste
modo, segundo a lenda era uso encontrar-se junto a referida via uma rica
proprietária a vender as suas uvas chamada Ana Dias, da junção do nome da
famosa vendedora surgiu o nome Anadia, para designar a localidade. Porém a
lenda não esclarece quanto ao traçado da via, porque não refere se a via passava
ao lado ou dentro da localidade, alimentando desta forma a dúvida quanto ao
assunto.
A forma
mais antiga encontrada para designar o referido povoado é “Nadia”, que surge
num documento que esclarece as confrontações de uma herdade de Monsarros, no documento
pode-se ler “dividit cum Quintanela et per illa Nadia et inde per illa ecllesia
Santi Martini ...Dividit e alia parte cum villanova”, analisando, Quintanela é
na atualidade Quintela da Igreja, um lugar da freguesia da Moita, a “...ecllesia
de Santi Martini..” é a igreja do povoado com o mesmo nome, que fica próximo de
Monsarros, e “villanova” é Vila Nova de Monsarros , logo, “illa Nadia” só
poderá ser Anadia. A palavra “Nadia”
deriva do latim “nativa” que significa nascente ou fonte natural, do lado norte
de Anadia brotavam fontes ou nascentes naturais. Num documento de 1140 que se
refere ao couto de Aguim é visível a designação actual de Anadia para se
referirem ao povoado.
A
documentação da Idade Média permite-nos conhecer a dinâmica existente, quanto à
consolidação e surgimento de povoados, no atual concelho de Anadia. Assim não
remetendo para o período anterior ao nascimento do reino temos: São Lourenço do
Bairro (883), Arcos (943), Sangalhos (957), Vila Nova de Monsarros (1064),
Levira (1020), Vilarinho do Bairro (1020), Samel (1020), Moita (1064), Tamengos
(1064), Horta (1064), Anadia (1084), Quintela (1089), Avelãs de Baixo (1138),
Figueira (1138), Boialvo (1138), Ferreiros (1138), Ancas (1143), Mogofores
(1143), Sá (1143) e Paredes do Bairro (1143). E no entanto de referir que os povoados
de Ferreiros, Fontemanha e Vale de Avim, povoados que actualmente integram a
freguesia da Moita, receberam carta de foral de D. Sancho em 1210.
A
fundação do concelho da Anadia remonta ao século XVI, quando D. Manuel no
âmbito de uma reforma administrativa, outorga várias cartas de foral, Anadia
recebeu a sua carta de foral dada pelo monarca em Lisboa (1514).
No espaço
que actualmente é o concelho da Anadia foram ainda criados os concelhos de
Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Vilarinho do Bairro, Aguim, Sangalhos,
Pereiro, Boialvo e Vila Nova de Monsarros. Em 1519, foi concedido foral a Paredes
do Bairro, e no ano seguinte, a Óis do Bairro e Mogofores.
Ao poder do
concelhio somaram-se outras jurisdições, como a Universidade de Coimbra, à qual
D. João III concedeu Anadia, que esteve sob o domínio da instituição até as guerras
liberais. Por sua vez a Coroa exercia o seu domínio em Avelãs de Caminho e
Sangalhos, enquanto que o bispo de Coimbra exerceu o seu domínioem Mongofores e
Óis do Bairro, e o cabido da Sé de Coimbra em Aguim, assim como, o bispo de
Santa Cruz de Coimbra em Pereiro e Sangalhos. Este último povoado a partir de
1338 passou a estar sob a jurisdição da abadessa de Santa Clara de Coimbra.
Quanto às
famílias nobres também dispunham da sua influência em alguns povoados, como
Avelãs de Cima, São Lourenço do Bairro, Vilarinho do Bairro, Carvalhais,
Ferreiros, Fontemanha e Vale de Avim. No que respeita a Anadia, a família que
mais se destacou foi a Sá de Melo, Aires de Sá e Melo (1690? /1786), casado
duas vezes a primeira foi Sebastiana Inês de Melo de Sousa e Cáceres, com quem
teve duas filhas, e a sua segunda esposa foi D. Maria Antónia de Sá Pereira
Menezes de quem teve João Rodrigues de Sá
e Melo
(Visconde de Anadia). D Aires Sá de Melo exerceu diversos cargos para a casa
real, como o de secretário adjunto do marquês de Pombal, secretário dos
Negócios Estrangeiros e da Guerra, conselheiro do Conselho da Fazenda de capa e
espada, e embaixador em Madrid. Devido ao prestígio alcançado por este, a
rainha D. Maria I, concedeu-lhe o título de visconde de Anadia por carta de 8
de Maio de 1786, ao seu filho. Posteriormente, a mesma rainha viria a conceder
a mesma pessoa o título de conde de Anadia, por carta de 17 de Dezembro de
1808.
Na década
de trinta do século XVI, surgem novas alterações administrativas, em que se
verificou uma nova divisão dos concelhos existentes, que pertenciam quase na
totalidade a comarca da Estremadura, excepto Avelãs de Cima e Ferreiros que
pertencia a comarca da Beira. Deste modo foram criadas duas novas comarcas, a 12
de Março de 1533 foi criada a comarca de Coimbra , assim, Aguim, Vila Nova de
Monsarros e Paredes do Bairro passaram a fazer parte desta nova comarca. E no ano
seguinte, a 20 de Dezembro foi criada a comarca de Aveiro, da qual passa a
fazer parte, Anadia, Avelãs de Caminho, Ferreiros, Pereiro, Sangalhos, São
Lourenço do Bairro e Vilarinho do Bairro.
A
configuração da região sofre novamente alterações no século XIX, Sangalhos e
Oliveira do Bairro foram unidas na década de vinte e trinta. A 28 de Abril de
1833, o concelho de Avelãs de Caminho era composto por, Anadia, Paredes do
Bairro e Pereiro. Com efeito, a 18 de Julho de 1835, ainda subsistiam os
concelhos de Aguim, Avelãs de Caminho, Avelãs de Cima, Ferreiros, Mogofores,
Óis do Bairro, Sangalhos, São Lourenço do Bairro, Vilarinho do Bairro e Vila
Nova de Monsarros. O decreto de 6 de Novembro de 1836 trouxe novas transformações,
ao estipular a existência de dois concelhos, o de Anadia, o qual passava a ser
composto pelas freguesias de Arcos, Moita, Mogofores, Avelãs de Caminho, Avelãs
de Cima, enquanto o concelho de São Lourenço do Bairro era composto
pela
freguesia de São Lourenço, Sangalhos, Óis do Bairro, Vilarinho do Bairro e
Troviscal.
A 4 de
Julho de 1837, o concelho da Anadia sofreu novamente transformações, com a
anexação de uma nova freguesia Vila Nova de Monsarros, que foi subtraída ao
concelho da Mealhada. Posteriormente, a 31 de Dezembro de 1853 verificou-se a
mesma situação com Tamengos, que foi anexado ao concelho da Anadia e subtraída ao
da Mealhada.
O
concelho de Anadia foi ainda ampliado com a freguesia do Troviscal que
pertencia a São Lourenço, ao qual se somou a freguesia de Ancas. A lei
administrativa de 26 de Junho de 1867 anexou ao concelho de Anadia, Oliveira do
Bairro, assim como a paróquia do Troviscal e Mamarrosa que passaram a ser uma
freguesia civil e a fazer parte do concelho de Anadia. Uma nova legislação veio
alterar a anterior, que fez com que o concelho de Anadia ficasse com a
configuração anterior.
Em 1867,
outras polémicas se levantaram desta vez entre o concelho da Anadia e o da
Mealhada, devido ao projecto de reorganização dos concelhos levantou a questão
de qual destes dois concelhos deveria ser a cabeça da comarca, segundo
Alexandre Seabra (1881-1891), não se tratava de uma questão de identidade
municipal, mas de benefícios materiais.
A questão
chegou ao Monarca, sob a forma de um abaixo –assinado por parte dos defensores
de Anadia. O problema foi solucionado de forma pacífica ao ser tudo incorporado
na Bairrada E Anadia que possuía um papel mais significativo no território
designado de Bairrada ficou como cabeça de comarca de um concelho com 3800
fogos, pagava de contribuição o dobro da Mealhada, mas possuía casa da comarca
e tribunal como poucas comarcas rurais na época e uma cadeia melhor que Águeda.
A 21 de Novembro de 1895 o concelho de Oliveira do Bairro é extinto e o seu
território dividido pelo conselho da Anadia e Águeda, esta configuração durou
até a 1898. No século XX criaram-se três novas freguesias, Amoreira da Gândara
(1928), Paredes do Bairro (1985) e Aguim (1989).
A nível
eclesiástico a primeira alteração ocorreu a 12 de Abril de 1774 com a criação
da diocese de Aveiro que acolheu as povoações de Ancas, Óis do Bairro,
Sangalhos, São Lourenço do Bairro e Vilarinho do Bairro, que anteriormente
pertenciam a diocese de Coimbra. Em 1859 estas povoações passaram a pertencer
ao arcebispado de Vilarinho do Bairro, extinto em 1881, data em que regressaram
a diocese de Coimbra. A diocese de Aveiro viria a ser restaurada a 24 de Agosto
de 1938, e passou a acolher dez concelhos entre eles, o concelho da Anadia.
Paralelamente,
as alterações administrativas que marcaram a história da região outros factos marcaram
esta região, nomeadamente, os movimentos anti-senhoriais que se fizeram sentir
no final
Antigo
Regime, e que viram a culminar no início do século XIX.
O século
XIX ficou marcado pelas Invasões Francesas, a 29 de Setembro de 1810, as tropas
do General Massena, após a derrota no Buçaco dirigiram-se para a Anadia, onde a
freguesia da Moita foi quem mais sofreu o poderio francês, que entre 30 de
Setembro e 4 de Outubro de 1810, viu as tropas francesas roubaram e destruíram
muitas culturas.
O período
das Invasões Francesas ficou tão bem marcado, ao ponto de cento e cinquenta
anos ainda se relatar que no referido período das invasões, ter sido enterrado
um tesouro na Quinta do Ortigão (Anadia), com a morte do seu proprietário,
Joaquim Rodrigues Campos, em 1847, pelas milícias cabralistas o tesouro tornou-se
irrecuperável.
Todo o
concelho de Anadia viveu de forma intensa a actividade política do século XIX, as
lutas entre liberais e absolutistas, uma vez que as duas fracções possuíam
apoiantes no concelho, o que conduziu a diversos acontecimentos normais para o
momento conturbados da época.
Até a
século XIX o concelho teve más acessibilidades e falta de meios de comunicação.
Em 1829 foi proposto o que o Jornal de
Coimbra tinha
proposto anos antes, o encadeamento do rio Cértima, de modo a facilitar o
escoamento dos vinhos da Bairrada por meio do porto de Aveiro.
Na década
de 50 do século XIX a principal preocupação era criar no concelho boas acessibilidades,
a 21 de Fevereiro de 1854 a Câmara Municipal solicitou uma estrada entre Aveiro
e a Bairrada, numa altura em que a estrada real Porto–Lisboa necessitava de
obras assim como as pontes que serviam o concelho da Anadia, uma vez que, em
1867 a esmagadora maioria das pontes existentes era de madeira.
O
primeiro comboio da linha do norte passou no concelho de Anadia em 1864, e o percurso
da linha-férrea foi o percurso que telégrafo eléctrico viria a usar numa fase
inicial. A estação do telégrafo chegou a sede de concelho, em 1876, numa altura
em que no País existia aproximadamente 150 estações de telégrafos. Em relação
ao telefone verifica-se o mesmo que se verifica em relação ao telégrafo não
existe muita documentação que comprove a sua chegada ao concelho.
A
iluminação pública numa primeira fase, em 1882, limitou-se ao centro da vila, e
o orçamento de 1892, contabilizava as despesas inerentes à iluminação do centro
da vila. O combustível usado para o efeito, em 1887, era o petróleo que se
manteve até aos inícios do século XX. Quanto à luz eléctrica a Curia foi a
primeira povoação do concelho a beneficiar deste bem, em 1913, sendo que a electricidade
demorou 15 anos para ser alargada ao restante concelho.
No século
XIX verificou-se um desenvolvimento da imprensa local, no ano de 1888, nasceram
no concelho vários periódicos, uns com uma existência mais duradoura que
outros, assim uns
sobreviveram
anos, enquanto outros sobreviveram décadas. A título de exemplo saliento o Jornal
da Anadia, nasceu a 21 de Maio de 1888, foi o primeiro periódico, fundado por
Artur de Campos. Durante os 30 anos que este jornal foi impresso outros jornais
surgiram, destaco: A Bairrada, Ecos da Anadia (1892) e Ideal da Bairrada (1898).
No total,
neste primeiro período surgiram sete periódicos, num espaço de tempo e
geográfico, que não podemos considerar muito amplo, mas de grande
desenvolvimento da imprensa, pelo menos no concelho de Anadia.
A Anadia
teve no meio século que antecedeu a República três figuras de grande relevo que
aproximavam o concelho do poder central: António Luís de Seabra (1798-1895),
Alexandre de Seabra (1818-1891) e José Luciano de Castro (1842-1914). Como
defensores dos interesses do concelho perante o poder central a população da
região idolatrava-os.
Alexandre
de Seabra foi jurisconsulto, formou-se na Universidade de Coimbra, em advogado,
foi o autor do Código do Processo Civil. Alexandre Seabra de Castro teve uma filha que
casou com José Luciano de Castro, que
era natural de dos arredores de Aveiro. José Luciano de Castro marcou o
panorama político nacional. Em 1853 foi nomeado deputado pelo círculo da Feira,
posteriormente, de Vila Nova de Gaia, Viana do Castelo e Aveiro. Após casar com
Maria Emília Seabra foi eleito 6 vezes (1870-84) pelo círculo de Anadia. Este
último facto levou a que o panorama político no concelho de Anadia, fosse
marcado por um certo caciquismo, até ao século
XX.
Porque José Luciano Castro era o chefe do Partido Progressista, e quem
governava era quem José Luciano de Castro apoiava.
Após a
sua morte os monárquicos juntaram-se em torno do Marques da Graciosa. A
possível implantação da República agitava a população, que a 31 de Janeiro de
1891, perante a possibilidade da implantação do novo regime esperava
ansiosamente o comboio em Mogofores para ter acesso aos jornais do Porto que
traziam as noticias. No entanto o fracasso, a Câmara Municipal demonstrou-se fiel
a família real. Antes da implantação da República a imprensa foi muito usada
para difundir os ideais republicanos, “abrir” as mentes da população e
demonstrar o quanto a monarquia se tinha tornado obsoleta e
inoperacional,
incapaz de resolver os problemas graves que assolavam a nação.